Pode ser uma receita de bolo, um manual de instrução. Tudo isso é controle, são regras, exigem perfeição. Nessa aula me concentro, me esforço, juro para você que me lê, mas o sono e a monotonia dificilmente me deixam esquecer que eu sou um homem, oras, e cansado eu fico mesmo.
Meu celular toca e eu tomo um susto. Porra, mãe, no meio da aula é hora de ligar? Sinto vergonha: Já estou deixando de prestar atenção e ainda atrapalho a explicação.
Dentro do discurso existem outros discursos, não tem como fugir disso mesmo, não é professor? Influência, influência, influência, o fluxo é forte, é difícil ser original. Eu até tento e me engano dizendo que faço diferente, mas no final eu sei que tudo acaba sendo igual. Olha só o que eu escrevo:
O professor tá falando, explicando
E andando de lado a lado
A mão no bolso, concentrado.
Eu estou aqui, escutando, divagando
E a cabeça caindo de sono
A mão na caneta, letra no papel
A hora não pára, tá passando
E lá fora o trem passa com barulho
O relógio girando, o ponteiro ainda no 10
Daqui a pouco a aula acaba, finita
E as palavras aqui também chegam ao fim
Pois tuda acaba, acabando.
Planejar é complicado, acho que sou mais intuitivo, que nem o Bandeira. Ou seria o Drummond? ou o Pessoa? Bem, consciente ou não não sou nem Bandeira, nem Drummond, nem Pessoa.
Mas para que falar tudo isso? Para que tentar me expressar?
Bom acho que sei a resposta: O professor continua a falar.